segunda-feira, 13 de julho de 2009

Meu divã

Nascemos e morremos...
e no espaço entre uma coisa e outra, estudamos, casamos, temos filhos, praticamos exercícios, adoecemos, choramos. Ninguém escapa deste script. Quando eu escrevo, não penso em ser uma celebridade. Minhas frases são pra decifrar o que em mim fica solto e não se decifra. Preciso ser entendido, mas isso é uma tarefa difícil pra eu cumprir sozinho. Por isso sento-me aqui no meu divã e abro meu coração.
Meus fiéis leitores são meus psicólogos. Eles ouvem minhas histórias reais, algumas disfarçadas e outras um pouco apimentadas para satisfazer aquele gostinho Hollywoodiano e algumas vezes eles me dão conselhos sabiamente colocados. A estes, eu não tenho vergonha de mostrar meus maiores medos e sonhos. Não tenho vergonha em deixar que eles se envolvam em minha vida e saibam a maioria os meus segredos.
Posso até lembrar dos meus tempos de infãncia quando tudo o que eu queria era ser gente grande, se formar e ter um emprego bom. Que relevante. Nada disso mudara minha vida!
Sobre o amor, a gente sempre ouve falar naquela história de metade da laranja, mas tá tão complicado achar alguém que me faça uma laranja inteira. Acho que já tô apodrecendo com o tempo. Não há agluém que seja seu. Pessoa nenhuma pertence a gente, isso é injusto. Todo mundo é livre. Eu nunca gostei quando as coisas vão rápido demais. Perde a emoção. Atingir a meta sem prorrogação não é vitória, não tem sufoco, não tem dor. Isso é muito sem graça.
Eu ouvi uma vez que se eu tivesse pelo menos um grande problema na minha vida, esse não há de ser por falta de felicidade. Se eu disser que eu estou com medo de ser feliz pra sempre, vocês acreditam?
Uma das maiores coisas que o ser humano poderia sentir é o sentimento de ser desejado. Não há coisa melhor, e nesse lado eu sou até bem servido, mas eu acho que preciso de um pouco mais.. só por auto estima. Eu preciso me sentir desejado. Isso é muito bom.
Tive alguns relacionamentos e outros lances, alguns óbvios e outros até muito bons. Mas tiveram um fim, e o fim nunca é bom; se fosse bom seria o começo.
Eu nunca sonhei com vidinha pacata, com rotina, com dormir demais, com chatice. No meu sonho de ser adulto as pessoas saíam bem mais e se aventuravam muito mais do que eu vejo que é na verdade. Eu não sou antigo, e desde de novo eu sou moderno. No meu quarto não tem florzinha no vaso e nem moldura bunitinha no quadro, meu quarto não é arrumado, e isso é uma coisa mais minha do que dos outros.
A vida passa tão rápido! Hoje já não sou mais aquele menininho de 10 que vivia sonhando com os 18. Isso me dá medo. Eu tenho medo de deixar a vida passar e não fazer nada, sabe? Me dá medo de não se aventurar o bastante, de não viver intensamente. Me dá um forte medo de não falar o fundamental, o essencial. Porque esses a gente nunca fala. Já pensou se a vida passar toda e a gente não ver, e quando notarmos estaremos velhos, sem mais aqueles sonhos, sem vontades e desejos, sem expectativas. Quando as pessoas entram numa fase de todos os dias parecerem domingo, elas continuam vivas, mas já morreram há muito tempo.
Esse mesmo pensamento que eu tento mostrar é o que acontece quando você compra uma coisa especial, sei lá, uma camisa bem cara. Aí, você empresta pra um conhecido, aí esse conhecido veste a camisa e a camisa ficou muito, mas muito mais bonita nele do que ficava em você. Daí ele vai num festão, todo mundo fica encantado, e ele suja a camisa, entorna vinho, rasga... e mesmo assim, a camisa continua muito mais bonita nele do que ficava em você.
Eu só sei que a gente se abre, conta nossos segredos e medos, contrata até analista em busca de definições para as perguntas da vida e só depois de um tempo você descobre que não há definição. A vida é pergunta, é falta de definição.
Minhas contas continuam a ser cobradas, minhas costas continuam doendo, eu continuo com insônia, meu quarto continua desarrumado, o cigarro continua me fazendo mal, o tempo continua passando, o sol continua manchando minha pele... mas agora eu sei. Se eu tive algum problema um dia, esse não foi por falta de felicidade.


Por Lucas Ranfer, baseado no livro Divã de Martha Medeiros.