segunda-feira, 12 de março de 2012

Nadismo

Devido aos grandiosos avanços tecnológicos entrar em contato com o resto do mundo em questão de segundos hoje em dia é mais que possível, é rotineiro. Temos virtualmente o maior banco de informações e dados que já se possuiu antes na história do planeta e podemos acessar redes sociais, e-mails, fazer pesquisas e conversar 'ao vivo' por vídeo com pessoas do outro lado do mundo é possível em qualquer canto da Terra que nos ofereça rede.
Usufruir desse artefato tecnológico é um prazer tão infinito que até os nobres da idade média dariam um rim para ter se soubessem de sua existência e praticidade, é claro! Até me pergunto como conseguimos chegar tão longe em evolução. "Conseguimos" não, porque eu jamais seria capaz de tal faceta. Conseguiram, alguém pensou, planejou, executou todo o trabalho e agora só me resta ligar meus dispositivos e navegar por aí!
Das grandes às menores cidades as pessoas utilizam seus smartphones para entrar em suas redes sociais, adicionar fotos em tempo real e se atualizar rapidamente com notícias enquanto esperam o transporte coletivo, nos 15 minutos de intervalo entre uma aula e outra, durante um comercial de TV e até quando vão ao banheiro. Estar online cem por cento do dia não é tarefa difícil de se fazer. 
É notório que diante de tanto entretenimento cibernético na palma das mãos, não temos a audácia de desgrudar um só minuto do aparelho, objeto este que quando não o temos por perto nos sentimos isolados, faltando algum membro do corpo e desamparados do mundo, e que cada vez mais pessoas encontram-se viciadas em seu uso de tal forma que já existe um distúrbio denominado nomofobia para poder explicar essa necessidade toda.
Já pararam para pensar que por bastante tempo não tiramos umas boas horas de relaxamento e liberdade mental, as chamadas "viagens" de pensamento, por causa do celular? Como antigamente as senhorinhas sentavam-se aos portões de casa para ver o movimento da rua e, instintivamente, não fazer nada. Passear no calçadão da praia a tarde, desligar a televisão por uns minutos, ir a uma cidade do interior e ficar vendo toda aquela bela paisagem no caminho. Ócio merecido!
Acreditem, meus caros. O ato de não fazer nada gerou o conceito do movimento chamado Nadismo, criado pelo preguiçoso publicitário brasileiro em Londres em 2005, Marcelo Borher. Com o objetivo maior de levar relaxamento pro seu dia que era, até então, atarefado e corrido. Pensem comigo: "Nadismo" (nada para fazer mesmo). Jamais existirá pensamento melhor que este. Esplêndido! 
Mas não é só isso, não. Na Itália existe uma organização chamada Cittaslow. Uma referência à frase "slow city" do inglês. O conceito é de crescimento urbano de uma forma revolucionária, respeitando a sustentabilidade e dando maior qualidade de vida aos praticantes. Se acham que acabou, saibam que também já rola o Slow Food, que por sinal não significa que a comida vai demorar a ficar pronta, mas sim uma organização com o objetivo de promover que os clientes tenham refeições sem restrições de tempo a fim de uma maior apreciação da gastronomia e o prazer na alimentação, além da melhor mastigação e adquirir hábitos mais saudáveis.
Enquanto é comum vermos pessoas correndo de um lado para outro, levar um tanto de "nada" pro seu dia vai ser demasiadamente prazeroso. Na hora do almoço ou jantar, tomar um bom banho quente e relaxar a noite, encher uma xícara de café, sentar à sombra e respirar fundo, ir ao portão de casa, olhar para o alto e ver a lua e principalmente, ficar calado, matutando num pequeno trajeto casa/trabalho ou vice-versa.
Diminuir o ritmo do dia-a-dia não faz mal a ninguém, acreditem. Melhora o humor, nos deixa mais relax e põe nossa cabeça pra funcionar sem pressão, sem chatices. Eu dou, certamente, meu total apoio para a prática desse movimento, e falando nele, estou fazendo minha parte nesse exato momento com meu pijama preto de bolinhas, o controle remoto e a cama bem macia esperando o último ponto final para contemplar com o prazer e o bem estar que o 'nadica de nada' pode trazer.

Por Lucas Ranfer