sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Olhos de cristal

Uma vez conheci uma mulher que tinha sonhos. Ela tem um olhar marcante e bem vivo. Um olhar de quem já passara pelos cruéis maus tratos que a vida proporciona e mesmo assim, sobreviveu como grande heroína.
Ela é uma mãe responsável, zelosa e uma educadora de altíssimo talento, que me acolheu de braços abertos. Eu vi em sua alma uma lágrima, talvez de arrependimento da vida, talvez de alegria. Nós conversamos pouco. O diálogo ficou pobre com nossas línguas nativas que são muito distintas.
Certa vez ela caminhava sozinha na beira de uma praia deserta e pensava no nada. Olhava o horizonte e refletia na vida. As ondas que chegavam subtamente molhavam seus pés. Com um sorriso, ela sentia a brisa do mar em seu rosto não mais jovial.
Ela é muito calma no seu jeito de falar, de tocar, de sorrir e de se emocionar. Tais costumes como de uma pessoa estranha que chega na casa dos outros pela primeira vez. Aqui ela estava. No meu país, na minha casa, na minha família.
Eu me lembro que suas mãos envergonhadas apertavam as minhas com ardor, como se pedisse um obrigado por tudo que eu a dava. E como proteção eu a segurava nas mãos e a mostrava que bem maior era ela quem me fazia.
Me lembro também que mesmo numa noite fria ela retirava seus sapatos ao entrar em minha casa. Isso é um gesto de maior humildade que alguém pode fazer. E logo ela, que vem de um lugar onde muitos menosprezariam minha casa, meus hábitos, a violência do meu país, minha cultura, meu povo.
Gostei de sentir sua proteção quando minha mãe não estava por perto. Gostei de quando seus olhos delicados olhavam os meus.
Ela me olhou com aqueles olhos de cristal. Uma lágrima veio a cair, e naquele momento eu vi que essa heroína é mais frágil que porcelana. Foi ali, naquele instante que eu percebi que meus laços de afeto e familiares se estenderam e atravessaram o oceano em direção ao outro lado do mundo, e que eu acabara de saber o que é o mais puro sentimento de uma "mão emprestada".
Eu não sei descrever o bem que ela me faz. É como calmaria depois da tempestade. É como sentimento de criança sem maldade. É como a brisa do mar no rosto.

Por Lucas Ranfer

2 comentários:

Carol Côrtes disse...

Aiiiin que liiiindo! ^^

Rei Stellet disse...

Perfeito por mim você já é membro da Academia Brasileira de Letras.!!!